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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Help, I'm alive. My heart keeps beating like a hammer.."

Consciência social tranquila

Hoje, após pensar demasiado até no assunto, cheguei à seguinte conclusão: Apesar de todos os erros que cometi, se há algo de que não me possa queixar é de ter deixado algo por fazer ou por dizer. Disse tudo o que pensei e que achei por bem dizer, embora algumas pessoas não concordem comigo neste aspecto. Mas, acima de tudo, tenho a consciência mais tranquila porque neste momento, todas as pessoas sabem o que têm de saber. As importantes sabem o que sinto. Por isso, esta seria sem dúvida uma altura em que se terminasse, a minha vida teria tido um sentido. E sei que sairia dela sem qualquer mágoa ou peso na consciência por não ter confessado algo ou coisa do género. Veio-me à cabeça uma ideia muito importante que todos deveríamos ter presente no nosso dia-a-dia, mas que muitos de nós, se não a maioria, com as ocupações e a azáfama do quotidiano, tanto ignoramos. Talvez nos lembremos mais dela durante um período de férias ou durante um momento agradável. Passo a explicar: Um dia, há cerca de dez anos atrás, pensei que ía morrer no dia seguinte. Após alguns meses que me pareceram intermináveis de dores horríveis na anca direita, o meu ortopedista da altura, decidiu marcar uma consulta comigo no Hospital Ortopédico de Santiago do Outão, em vez de no seu consultório particular como era hábito. A minha mãe foi me preparando para um cenário de internamento, coisa a que eu me recusei de imediato, com medo de estar longe da minha mãe. Durante a consulta, o médico delegou o meu caso a outro especialista, que me fez uma ecografia à zona em questão. O resultado foi o que temia: Operação de urgência e internamento. Chorei muito e a minha mãe acabou por ficar hospedada comigo num quarto particular, que o meu pai teve de pagar. O quarto ficava virado para o rio Sado e toda a fachada do edifício era percorrida por uma comprida varanda.Era um espaço agradável. A operação era algo completamente novo para mim e tinha ouvido dizer que a anestesia podia ser demasiado forte para algumas pessoas fazendo-as adormecer para sempre. Talvez fosse o meu caso. Lembro-me nitidamente da imagem que vi naquele fim de tarde que julguei ser a minha última. Estava olhar para o rio, deitada na cama, com a cabeceira levantada. A água brilhante de um azul inesquecível.Golfinhos. Sim," os golfinhos vieram dizer-me adeus" pensei. Pedi para que aquele momento não terminasse nunca. Contemplei aquela paisagem maravilhosa como nunca antes o tinha feito, em parte alguma, com nenhum objecto. Aproveitei verdadeiramente aqueles minutos. Acho mesmo que nunca o vou repetir tão intensamente. Foi a minha primeira experiência do "Carpe Diem" antes mesmo de saber o que isso era. A coisa correu bem e após 3 semanas de recuperação vim para casa e cá estou eu. É muitas vezes, preciso estarmos prestes a perder algo ou já ter perdido, para lhe darmos o real valor.Para o contemplarmos com admiração e espanto. Dizer aquilo que se sente em relação a algo ou alguém completamente despojado de preconceitos ou embaraços. Com pureza e verdade. Depois o alívio. O sentir do peso a sair-nos dos ombros. O vento refrescante e leve, a bater-nos na cara e a ondular-nos o cabelo. Haverá algo melhor na vida? Para mim , não creio. Hoje, escrevo para me libertar, numa tentativa de voltar a sentir a brisa que tenho sentido todos os dias e reparado nela. Levantar a cara e orgulharmo-nos do que somos e de estarmos vivos, com o vento a acariciar e aprovar essa felicidade momentânea, a permitir essa pequena vaidade, se alguém assim o preferir chamar.Seja o que for, é algo que faz bem. Ao ego e à saúde. Sintam o vento a soprar-vos na cara de verdade. É o que vos desejo hoje.